domingo, 11 de abril de 2010

Foi só um carnaval

Sabe?

Hoje após ouvir “...tire o teu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor..” lembrei-me dos carnavais que juntos passamos. Lembra-te? Eu passava e você insistia com este teu sorriso de festa, para espantar minha tristeza.

Naqueles tempos de tantos desencontros, as palavras terminam por tomar formas não desejadas, ferindo, magoando. Era tudo tão confuso que podia parecer uma fórmula muito simples de tentar explicar algo dito sem intenção. Você não havia entendido aquela minha frase, a mesma que ouvi hoje. Você magoara-se.

Ah! É tempo de carnaval. Vai distante aquele carnaval que nos mascaramos de gente. Lembra-te? A gente queria brincar de viver.

Naquela terça-feira, nós achávamos que devíamos nos dar mais, mesmo que isto custasse o sol, a terra, o mar, as esbranquiçadas raízes de nossas planícies íntimas ou a nossa própria vida.

A gente achava que deveria abraçar não só naquela terça-feira, mas sim a quarta, quinta-feira, sei lá a vida toda, numa doação por inteiro dessas raízes de ternura que ainda insistem em existir para sempre, sem medo, sem angustias, pudor, desesperos.

Sabe? Acho que a gente nesse carnaval devia se fantasiar de criança, e sair numa imensa ciranda para sempre; a gente não devia esquecer como se esquece quando chega a quarta-feira. Depois vem uma dor sem consolo, porque não se sabe o que foi bem e o que foi mal.

A harmonia, os sambas-enredo cantados, confundem-se num silêncio de clamores ocultos. E salta a vontade animal de ferir, magoar. É esse gesto de resistência que amarra o temporal e encerra o desespero no inferno da dúvida, que nos faz pensar na dimensão da alma.

Por que na agitação da orquestra e na dimensão do falso riso procuramos dissimular e reformar caminhos que, sabemos, só há um falso cintilar de falsas ilusões?

Sabe? Você tem algo que não dá para explicar. As pessoas jamais vão entender. Você esta muito acima de tudo que eu possa explicar e confesso o que vem lá do fundo de minha alma que sou muito mais você, sabe?

Eu disse que a chuva lava a gente por dentro, e você deixou escapar esse teu sorriso maroto.

Tudo isto ficou num passado que eu estava lembrando agora. Isto tudo se passou e faz algum tempo que agora o nosso carnaval é apenas sobras de confetes de ilusões, serpentinas de algumas mágoas.

Quando vier a quarta-feira haveremos de jogar no mar as cinzas dessas saudosas lembranças e inaugurar mais um novo dia, que não precisa ser de nenhum outro carnaval.

achados do Dengo/82

(Achados de 28/02/1982)

sábado, 10 de abril de 2010

O que a chuva me faz ver

Uma página qualquer...

(O que a chuva me faz ver)

Lá fora a natureza chora lágrimas que rolam cadenciadas e esparrama vidas.

Galhos e folhas das árvores recebem tais gotas com alegria e uma fonte do viver, florir e frutificar. Frutos que são dádivas em retribuição e gratidão.

Assim, a cada instante a vida se renova numa inesgotável fonte: "é dando que se recebe".

Também lá fora acontecem outros fatos que são os praticados por seres humanos. Seres antagônicos, questionáveis, racionais, inconscientes e injustos se apenas destrutivos, porém geniais quando transformam. Criativos?

- Hum!!! Não creio que os seres humanos tenham o poder de criar, partindo do nada.

Criaturas, “imagem e semelhança do criador” e clone fidedigno... Digno? Dignidade!?

Aqui me atenho. Paro e olho ao redor... Estupefato, acabrunhado e tristonho com tais contradições. Fatos sucedâneos que ora nos causam revolta e noutras até nos acalentam. Nos faz chorar e nossas lágrimas, assim como as da mãe natureza, traçam o caminho da esperança. Esperanças que nossas ações, assim como as lágrimas da mãe natureza, produzam os frutos identificáveis como “dádivas de retribuição e gratidão pela vida”.

G. Santos.

15/09/76